Esperei que acabasse a “eleição interna” de nosso grupo na OAB/DF para me posicionar.
O resultado, 42 votos para Jacques, 39 para Cleber e 22 abstenções, é a prova nítida de que há uma grande divisão no que um dia foi um grupo.
Muitos talvez não tenham entendido o que aconteceu, mas agora explico, sem meias palavras: o que se deu foi uma traição, pura e simplesmente.
Tudo começou quando o atual presidente, Juliano Costa Couto, lançou-se, no primeiro dia de mandato, em uma aventura pessoal de reeleição. Justamente o contrário do que defendemos na campanha na qual formamos a chapa vencedora.
Aventura somente abortada por conta de grave denúncia do MPF que nos colocou diante da triste circunstância de ver um presidente da OAB/DF denunciado criminalmente na Lava Jato por corrupção e, pior ainda, por obstrução de justiça.
Ainda assim, na impossibilidade de ser candidato, Juliano lançou como sucessor seu amigo e parceiro, o atual secretário-geral da entidade, Jacques Veloso. Fez isso sem consultar nenhum dos membros da diretoria, em ritmo de projeto pessoal de poder entre amigos.
Ressalto que, para mim e para a maioria dos conselheiros, o líder do grupo é Ibaneis Rocha, o presidente que profissionalizou a administração da Ordem e que garantiu espaço para as advogadas, os jovens e para as subseções.
Ibaneis, em público e no particular, sempre deixou claro que Jacques não está preparado para o cargo de presidente da OAB/DF. Por essa razão, lançou o nome do criminalista Cléber Lopes como candidato, a quem apoiei.
Mas, dado o modo como foram feitas, agora, as escolhas, repito: não irei compactuar com uma traição. O atual presidente da OAB/DF não tem condições morais para representar a Ordem, nem, muito menos, para indicar como sucessor quem quer que seja.
Principalmente um nome sem nenhum respeito pela advocacia feminina. Que trata a nós, advogadas, como figurantes, a ponto de defender nossa representação via escolha por laços de parentesco, sociedade e formosura. É a expressão clássica do machismo dentro da categoria, que pretende, a partir de conselheiros homens, definir qual advogada mulher poderá representá-los.
Não somos marionetes e não aceitamos esta tutela. Escolheremos, nós mesmas, as mulheres que de fato nos representam.
Além disso, é triste ver que as pessoas quererem usar a OAB para seus próprios benefícios.
Passo longe dessa realidade, porque tenho princípios e com eles sigo na luta pela inclusão das mulheres, dos jovens e das subseções na OAB.
Meu inconformismo contra o sistema incomoda e tem me custado caro, mas não me curvo à tentativa machista de me imputar a pecha de “difícil” e “geniosa”, tão comum àqueles que, sem argumentos, tentam calar as mulheres que insistem em ter voz.
A OAB não é lugar para covardes e gente acomodada.
Por isso, com o apoio de todos que acreditam nos meus valores e nas minhas convicções, continuarei a serviço dos princípios que devem nortear uma OAB altiva e independente.
Faço isso com desassombro, e certa de que represento as aspirações de uma maioria cansada desse jogo de cartas marcadas que tanto prejuízo tem trazido a nossa categoria.
Daniela Teixeira
Advogada
Marcelo Lucas de Souza (25.369/DF) é o advogado CEO do escritório, com mais de 17 anos de experiência em atuações e prevenções jurídicas nos diversos ramos do direito. Possui pós-graduação com tese sobre direito público. Foi coordenador licenciado em prática jurídica e coordenador adjunto do curso de direito do Centro Universitário Icesp de Brasília. Foi diretor tesoureiro da OAB-DF – CAADF e professor de direito em várias instituições do Distrito Federal.